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Andréia Debon

Pantelleria, uma ilha mágica e fascinante


Se a Sicília é um dos destinos mais incríveis do Sul da Itália, com a natureza dotando-a de uma costa privilegiada, outra ilha que pertence a esse território faz dessa região um paraíso de beleza natural incomparável. É Pantelleria, um lugar mágico, um pequeno pedaço de terra que fica mais próximo da Tunísia do que da Itália. Com ventos intensos, principalmente no verão, – Pantelleria significa “a filha dos ventos” - e cercada pelo mar, a ilha possui alma selvagem, com a qual o homem está sabendo lidar muito bem. Desse encontro nasce o vinho passito, que não é somente um vinho, mas um bem precioso e um guia para descobrir os mistérios desse lugarejo anteriormente conquistado e habitado por árabes.

Há duas formas de se chegar a Pantelleria: com um barco, cuja viagem dura cerca de duas horas e meia, ou de avião, 40 minutos, voos diárias. Ambas as saídas são de Trapani. Já na ilha, para quem deseja se hospedar e ficar mais de um dia, as opções vão desde a locação das ‘dammusi’ – casas arredondadas, feitas com pedras de lava vulcânica e teto de gesso, ou hotéis e pousadas de luxo – lembrando que a ilha é frequentada por muitos famosos, entre eles o estilista Giorgio Armani, que possui uma casa à beira do mar Mediterrâneo. São sete mil habitantes – chegaram a habitar a ilha em torno de 20 mil pessoas logo após a Segunda Guerra Mundial. A economia local gira em torno do turismo e do vinho passito.

Pantelleria é bela num todo, mas é a riqueza dos detalhes que encanta. Plantinhas de alcaparras crescem entre os muros de pedra, oliveiras circundam os belos jardins pantescos, temperos, como o alecrim, nascem em qualquer cantinho, perfumando o ar. Mas são as pequeninas vinhas que desenham e completam a paisagem, formando uma áurea harmônica entre a paisagem, os pequenos vilarejos e o azul do Mediterrâneo. Plantadas em terraços pelo sistema ‘alberello’, elas permanecem baixas e seus galhos crescem para os lados. Isso para proteger as plantas do vento – o sistema também é aplicado às oliveiras. O cultivo, denominado como ‘extremo’, é feito sem o uso de qualquer máquina, o que torna o processo delicado, trabalhoso e longo. Por causa disso, os tratos culturais chegam a demorar semanas a mais do que em outras localidades. Pelas dificuldades em trabalhar com a vinha nesse sistema, a Unesco declarou, em 2014, a prática como Patrimônio Imaterial da Humanidade. Em maio desse ano um incêndio de grandes proporções atingiu a ilha e destruiu 600 hectares, muitos desses de vinhedos.

A variedade plantada na ilha chama-se Zibbilo (Moscato de Alexandria). É com ela que se elaboram os vinhos doces: Moscato di Pantelleria DOC e o Passito di Pantelleria DOC. Para se obter o passito, as uvas passam por um processo de secagem, permanecendo uma semana, ou mais, dependendo do estilo que se quer do vinho, secando sob o sol e o vento – na ilha sente-se muito as ondas extremas de calor que vem da África. Há também outros estilos de vinhos elaborados pelos vitivinicultores, como Pantelleria Moscato Espumante, Pantelleria Moscato Liquoroso e Pantelleria Frizzante.

Uma das principais vinícolas que produzem o Passito di Panteleria chama-se Donnafugata. Fundada em 2006 – a família Rallo possui outra vinícola na cidade de Marsala - possui 68 hectares de vinhedo em diferentes microterroirs da ilha. Seu proprietário, Giacomo Rallo (falecido poucos dias após a visita da nossa reportagem – leia mais na página 37) foi um dos pioneiros na retomada da vitivinicultura na ilha – a quantidade de hectares em produção hoje varia entre 600 a 800. Mas chegaram a seis mil hectares no Século 10. Portanto, atualmente, apenas 20% da área total está em produtividade. A baixa drástica no cultivo agrícola se deu ao longo dos anos pelas dificuldades de produção e pelos altos custos. Atualmente, o Passito Donnafugata, denominado Ben Rye (filho dos ventos), é um dos mais conhecidos do mundo e leva o nome desse pequeno pedaço do paraíso e da própria Itália para o mundo. Para cada 100 litros de mosto, adiciona-se em torno de 70 quilos de uvas passas. É um dos métodos de elaboração de vinho mais antigo. Depois que o líquido fermenta, o vinho permanece em tanques de inox de seis a sete meses e em garrafa por um ano.

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