

Região conhecida mundialmente pela produção de café desponta para a vitivinicultura
O Cerrado Mineiro é reconhecido mundialmente pela produção de café. É a primeira, e única, região cafeeira do Brasil a possuir uma Denominação de Origem - conquistada em 2013. Atualmente, representa 12,7% da produção de café brasileira e 25,4% da mineira. São 210 mil hectares cultivados, em 55 municípios. Cerca de 4,5 mil cafeicultores produzem em média sete milhões de sacas anualmente. O Café do Cerrado Mineiro é um produto singular. É produzido em um terroir que conta com estações climáticas bem definidas: verão quente e úmido e inverno ameno e seco. Mas, se esse terroir é tão fantástico para a produção de café, originando alguns dos cafés mais caros do mundo, será que também seria para a produção de uvas? Foi o que o cafeicultor Flavio Bambini (foto) decidiu testar.
Após muito estudo e horas de consultoria técnica, em outubro de 2015 iniciou o plantio de uvas Vitisviníferas na Fazenda Fortaleza, na cidade de Cruzeiro da Fortaleza (MG), com o objetivo de elaborar seu próprio vinho. “Contatei o Dr. Frederico Novelli, consultor da Vitacea Brasil, para fazer uma análise de viabilidade no novo terroir e nos assessorar na implantação de um vinhedo, através de premissas técnicas conhecidas para a região. Verificou-se que a Região do Cerrado de Minas Gerais apresentava características do solo, climáticas e de altitude excepcionais, o que possibilitaria uma relação perfeita com a tecnologia de manejo da dupla poda”, cita ele, em alusão à técnica que permite que a maturação da uva ocorra no outono/inverno (técnica criada pelo engenheiro agrônomo do Núcleo Tecnológico Uva e Vinho – Epamig Caldas, Murilo Albuquerque Regina).

Inicialmente, o empresário plantou meio hectare da variedade Syrah, o que rendeu uma produção de duas mil garrafas de vinho. “Estamos numa região de altitude entre 900 e 1250 metros, com estações bem definidas, um período de outono/inverno seco, sem chuvas, boa amplitude térmica, com dias quentes e noites frias, com temperaturas próximas a 10ºC no período de maturação da uva. Além disso, essa região também conta com uma diversidade incrível de solos, que podem nos fornecer vários perfis de vinhos. Esse foi o gatilho do negócio. Seria o início do café e vinho caminhando lado a lado”. Conforme Bambini, o segundo ponto que favorecia o cultivo de uva por lá era, juntamente, a otimização de recursos pela atividade exercida na Região do Cerrado, predominantemente cafeeira. “Temos uma área plana, mecanizável, com todas as condições climáticas favoráveis e com uma variedade que já está comprovado
Primeira safra

A primeira safra do Projeto Fortaleza ocorreu em julho de 2017, com uma pequena produção, que rendeu cerca de 200 garrafas do vinho, intitulado Projeto Fortaleza Cerrado Mineiro Bambini 2017, em homenagem à origem italiana do idealizador do projeto. A vinificação ocorreu no Núcleo Tecnológico Uva e Vinho - Epamig Caldas (MG), feita pela enóloga Isabela Peregrino. Conforme Bambini, apesar da pouca idade do vinhedo, o vinho oriundo daquelas uvas apresenta características que representam muito bem a região do Cerrado Mineiro. “Temos um produto básico, de alta qualidade, que vai evoluir juntamente com o vinhedo e com a vitivinicultura da região”, explica o empresário, destacado as características organolépticas da bebida. “É um vinho jovem, de cor rubi, de média intensidade, com aromas que apresentam um bouquet levemente fechado, o qual se abre aos poucos para frutas vermelhas frescas, com um toque de especiarias. Apresenta grande frescor. Em boca, tem corpo leve, com taninos suaves e acidez agradável”, descreve.

A segunda safra do Projeto Fortaleza ocorreu na última quinzena de julho. A expectativa é que renda cerca de três toneladas ou duas mil garrafas. O vinho deve ser disponibilizado aos apreciadores em junho do próximo ano. Para 2019 os planos do produtor é diversificar o plantio, investindo na casta Sauvignon Blanc para a elaboração de vinho branco. “Sou agrônomo de café. Plantei uvas por hobby e por paixão. Contudo, essa experiência deu certo e vi que pode ser um grande negócio não só pra mim, como para todo o Cerrado Mineiro”. O vinho Bambini produzido até então não é comercializado. Ainda é elaborado com o objetivo de verificar o potencial do terroir da região.

Projeto Vinhos do Cerrado

A partir desse primeiro investimento surgiram outros interessados em plantar uvas no Cerrado Mineiro. Foi então que nasceu o projeto ‘Vinhos do Cerrado’, que hoje conta com cerca de 20 participantes, a maioria de cafeicultores da região. Segundo Bambini, o objetivo principal do grupo é utilizar o know how que a região tem para a produção de café e tornar-se também produtora de vinhos. “Acreditamos que a estrutura de governança da Região do Cerrado Mineiro, através da Denominação de Origem do Café, juntamente com o apoio da Federação dos Cafeicultores do Cerrado e do SEBRAE, poderão influenciar e auxiliar diretamente no desenvolvimento do projeto ‘Vinhos do Cerrado’”, explica o empreendedor.
O objetivo principal seria unir o vinho ao café. “Um consumidor de café não sairia de um grande centro para vir conhecer uma fazenda de café e talvez não viesse também conhecer uma pequena vinícola. Porém, se criarmos condições para que a região se desenvolva, com diversidade de rótulos, vinícolas e grandes fazendas de café, é certo que se tornará um grande atrativo e um possível polo turístico, o que será muito bom para a Região do Cerrado Mineiro, para o café, para o vinho e para todos que aqui habitam. Estamos traçando estratégias de montar a Rota do Vinho e do Café”, adianta Bambini.

A Área de produção do projeto ‘Vinhos do Cerrado’ deve finalizar o ano de 2018, com 2,5 hectares plantados, sendo 0,5 ha em Cruzeiro da Fortaleza, do produtor Flávio Bambini, e dois hectares do produtor Daniel Bruxel, em Patos de Minas, cujo plantio das variedades Syrah e Sauvignon Blanc está programado para ocorrer em entre agosto e setembro de 2018. “O projeto ‘Vinhos do Cerrado’ não alcançou áreas mais expressivas no ano de 2018 devido à indisponibilidade de mudas certificadas para atender a demanda. Portanto, a projeção para 2019 é que tenhamos área entre sete a 10 ha plantados. Área esta que começa a tornar-se significativa e capaz de viabilizar uma vinícola local para vinificação de 40 a 50 mil garrafas por ano, com projeção gradativa de aumento de produção”, destaca o produtor.
que se desenvolve muito bem nessa região, que é a Syrah, a qual aceita muito bem a poda invertida ou dupla poda”, destaca.