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Um bate-papo com Bruno Motter, jovem escolhido como ‘Enólogo do Ano’



Andreia Debon - @andreiadebon


Todos os anos, a Associação Brasileira de Enologia (ABE) homenageia um de seus enólogos com o título de ‘Enólogo do Ano’. A distinção é dada a um profissional que venha se destacando no segmento, tanto na área setorial quanto tecnológica.


Em 2022 foi escolhido Bruno Motter, um jovem enólogo de 33 anos que está à frente da Vinícola Don Guerino, localizada em Alto Feliz, na Serra Gaúcha. A escolha seguiu um regulamento de três etapas, com a participação de 150 enólogos associados da entidade. Bruno Motter é formado em Enologia pela Universidad Juan Agustin Maza, e pós-graduado em Gestão Empresarial.


A Vinícola Don Guerino elabora cerca de 500 mil litros de vinhos por ano das variedades Chardonnay, Sauvignon Blanc, Riesling, Torrontés, Moscato Giallo, Prosecco e Alvarinho, além de Malbec, Merlot, Tannat, Cabernet Franc e Teroldego.

A Bon Vivant conversou com o enólogo Bruno Motter para conhecer mais sobre este jovem profissional e o que ele pensa do setor vitivinícola do Brasil. Confira:



Bon Vivant: Como e quando começou o teu interesse em trabalhar com o vinho? Tua família tem história com a bebida? Nos conte um pouco da sua trajetória...

Bruno Motter: A minha história com o vinho começa na infância. Minhas férias escolares eram em meio aos vinhedos e a vinícola da família. Na época, eu já acompanhava o meu pai (Osvaldo Motter) e tinha a oportunidade de vê-lo elaborando os vinhos na vinícola localizada no interior de Caxias do Sul. Em 2000, quando inicia o projeto da Vinícola Don Guerino, em Alto Feliz, acompanhei de perto o início da implantação dos primeiros vinhedos e o tão sonhado plano de uma nova vinícola destinada a elaboração de vinhos finos.


Bon Vivant: Quem te inspirou a fazer enologia e por que escolheste Mendoza (Argentina) para estudar?

Bruno: Em 2006, quando finalizei o ensino médio, a construção da nova vinícola estava sendo finalizada, e por esse sonho ser alimentando por meus pais surgiu essa quase ‘necessidade’ de ter um enólogo para então gerenciar a elaboração dos vinhos neste novo projeto. Eu sempre gostei muito do mundo do vinho e, então, em 2007, resolvi estudar Enologia em Mendoza com o objetivo de voltar de lá com novas ideias e poder somar ainda mais nesse projeto (Don Guerino) que estava começando a se estruturar.


Bon Vivant: Você tem 33 anos. É o enólogo mais jovem escolhido pela Associação Brasileira de Enologia para receber o título de Enólogo do Ano. Quais foram, na tua opinião, os motivos que fizeram com que teus colegas te homenageiem?

Bruno: Ser lembrado pelos colegas de todo setor me deu muita satisfação. Sou uma pessoa bastante dedicada, inquieta, capaz de criar produtos novos, com estilos e personalidade próprias. Quero, ao longo dos anos, elaborar vinhos premiados nacional e internacionalmente. É o meu grande objetivo.


Bon Vivant: Qual ou quais foram os vinhos elaborados por você que mais te trouxeram satisfação?

Bruno: Escolher um determinado vinho é uma tarefa muito difícil. Acredito que as últimas safras trouxeram surpresas agradáveis. Além das vindimas de qualidade, começamos e usar métodos de elaboração que respeitam mais a característica de nosso Terroir. Mas eu posso citar: Don Guerino Traços 2020, Don Guerino Field Blend MMXX 2020 (recém lançado), Don Guerino Le Franc, Linha Terroir Selection com Malbec, Teroldego e Chardonnay (uma linha de vinhos de parcela que me inspira bastante). Todos esses são vinhos que estão em um nível altíssimo e me agradam bastante. Mas durante minha rotina costumo tomar vinhos de nossa linha Sinais, focados muito na leveza, expressão e pureza de cada variedade.


Bon Vivant: Quais são os maiores obstáculos enfrentados pelos vinhos brasileiros atualmente?

Bruno: Além do contrabando e dos impostos, eu acredito que devemos ter “consistência”, isto é, o enólogo deve seguir o rumo do vinhedo, participar do manejo, investir tempo no cultivo de boas uvas, juntamente com a equipe de campo, buscando, a cada vindima, uma fruta melhor. A consistência está no vinhedo. Não há segredo, um bom prato é feito com bons ingredientes.


Bon Vivant: Você concorda que o espumante é o estilo de vinho que representa o Brasil?

Bruno: É, sim, o produto mais consolidado e que combina com a tropicalidade de nosso país. Mas temos um leque enorme a explorar. Vinhos Brancos, Rosés, Tintos frescos e gastronômicos, além dos espumantes, também são um estilos que podem representar o Brasil.


Bon Vivant: O que falta para o vinho brasileiro ganhar ainda mais destaque no segmento mundialmente?

Bruno: Nossa característica sempre foi de um país com vinícolas e produções mais familiares. Em um curto período eu penso que devemos buscar a identidade de nossos vinhos. Demarcando este estilo próprio o Brasil pode mostrar seus vinhos mais facilmente ao mundo. O setor deve se unir e participar de feiras internacionais do segmento para que possamos exportar nossos vinhos em maior volume. Somos um país privilegiado por ser um grande centro consumidor (todo o mundo quer vender vinho aqui no Brasil), então temos que também ser referência no mercado Brasileiro, primeiramente, para alçar voos maiores.


Bon Vivant: A Don Guerino, vinícola da sua família, tem um projeto interessante com enoturismo. Como funciona? Nos explique um pouco mais...

Bruno: Em 2018 finalizamos um novo centro de enoturismo que serve para propor experiências a nossos visitantes. Nossa vinícola possui atividades de visitas e degustações guiadas, experiências também em nosso restaurante, que é comandado por meu irmão, chef Lucas Motter. Toda família está bastante ativa nesta área, visto que esta atividade que vem crescendo de forma intensa nos últimos anos na Serra Gaúcha.



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